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Amando ou Enganando?

Visualize essa situação:

Você conhece alguém e pronto! Já está apaixonado e começa a sofrer: Será que vai dar certo? Será que eu devo ligar? Ou será que ainda é cedo? Será que vai parecer que estou precipitando os fatos?

Todos os sonhos e expectativas batem continência em sua mente, apresentando-se para a árdua tarefa de, durante dias e dias, fazer conjecturas, planos mirabolantes, ideias estonteantes para que esse encontro se torne um namoro e claro, com certeza, algo mais sério!

Sua mente, mais tagarela do que nunca, pensa em todas as qualidades que esse ser apresenta: É uma pessoa tão carinhosa... tão romântica... tão atenciosa... tão educada... tão...tão...tão... Inebriados pelo delírio de finalmente termos um amor, nos tornamos cegos para as possiveis características de personalidade que não  são assim, tão... maravilhosas!

As discordâncias, os pequenos desentendimentos, o fato de gostarem de coisas tão diferentes, e tantos outros fatos que poderiam servir de alertas, tudo é empurrado para debaixo do tapete sob o pretexto de que é muito cedo, é tudo muito novo, estamos apenas nos conhecendo e esses desencontros são ajustes na relação. Afinal! Todo mundo pode mudar, com o tempo eu darei um jeito! Não há nada que o amor não cure!

Mas a questão é: Existe Amor?

Na maioria das vezes, não. Denominamos amor a um sentimento de urgência em termos alguém, à ansiedade por ter uma companhia. Precisamos desesperadamente que alguém nos ame e que nos aceite, então, nos tornamos cegos para a realidade que se apresenta com seus possíveis espinhos e enxergamos apenas o que queremos - um vasto, lindo e cheiroso mar de rosas!

E dessa maneira muita gente passa grande parte da sua vida ou até a vida inteira. Enganando-se ano após ano, tentando mostrar ao mundo o quanto é realizada, o quanto é feliz com seu "amor", e na verdade vive com o coração sangrando e sonhando com alguém que a ame de verdade.

Buscam terapias, mas não raro fogem delas ao descobrirem que a solução passa pelo auto-enfrentamento, precisam aprender a satisfazerem primeiramente a si, dizendo "nãos" e isso às vezes requer a desestruturação de uma vida organizada em bases falsas, sem lastros amorosos, sem cumplicidade.

Um "não" muitas vezes é entendido como "não te amo", "não vou fazer isso por você, porque não gosto de você", colocamos uma carga emocional muito grande sobre a negativa do outro e assim com medo de magoá-lo dizemos "sim", quando queríamos dizer "não", e magoamos nós mesmos, nosso coração dói, ficamos nos sentindo muito mal, porque deixamos de fazer o que nos faria feliz.

O que fazer? Amar-se! Eis o grande mistério. Para que sejamos amados, precisamos acima de tudo nos amar. E isso significa dizer que não devemos nos violentar, seja lá por que causa for. Quem se ama não aceita viver uma vida de aparências. Quem se ama de verdade, não busca satisfazer as expectativas de outros, sejam familiares, modelos sociais, etc., ao contrário, volta-se para si, para sua essência, para o que faz a sua alma sorrir.

Então, dirão: Essa atitude é extremamente egoísta. Não, não é. Essa atitude é de autopreservação e denota amor próprio, auto-estima, respeito aos seus desejos, às suas necessidades.

É falso o pensamento de que precisamos de alguém para nos completar, e quem busca a metade da laranja é porque ainda não é inteiro. Evoluir para ser inteiro é aceitar as suas qualidade e defeitos e saber conviver com isso, é saber estar só, sem ser solitário, é ter segurança para dizer "não", mesmo que não seja compreendido pelo outro. Só assim teremos grandes possibilidades de encontrarmos alguém que também seja inteiro e que possamos amar e ser amados.

Saudável também é lembrar que o amor não tem o poder de fazer desaparecer todos os problemas, esse é um pensamento que ajuda a manter os relacionamentos. Amores de "Cinderela" terminam à meia-noite.

Portanto, ainda nos espetaremos em alguns espinhos, mas agora poderemos contar com a força do amor que emana de nós.

Léa Lima

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