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Showing posts from November, 2010

Ao linotipista*

Desculpe eu estar errando tanto na máquina. Primeiro é porque minha mão direita foi queimada. Segundo, não sei por quê. Agora um pedido: não me corrija. A pontuação é a respiração da frase, e minha frase respira assim. E se você me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar. Escrever é uma maldição. (LISPECTOR, 1984, p. 154) * Linótipo [s. m.] Tip. Máquina de compor e fundir os caracteres de imprensa às linhas.

Aprendizado

E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar.  Decidi não esperar pelas oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las. Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução. Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis. Decidi ver cada noite como um mistério a resolver. Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz. Naquele dia, descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações, e que enfrentá-las era a única e melhor forma de superá-las. Naquele dia, decobri que eu não era o melhor e que talvez nunca tivesse sido. Deixei de me importar com quem ganha ou perde. Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer. Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim, deixar de subir. Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de amigo. Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento - o amor é uma filosofia de vida. Naquele dia, deixei de ser um r

Conselhos

Chorar não resolve, falar pouco é uma virtude, aprender a se colocar em primeiro lugar não é egoismo, e o que não mata com certeza fortalece.  Às vezes mudar é preciso, nem tudo vai ser como você quer, a vida continua. Pra qualquer escolha se segue alguma consequência, vontades efêmeras não valem a pena. Quem faz uma vez não faz duas necessariamente, mas quem faz dez, com certeza faz onze.  Perdoar é nobre, esquecer é quase impossivel.  Nem todo mundo é tão legal assim, e de perto ninguém é normal.  Quem te merece não te faz chorar, quem gosta cuida, o que está no passado tem motivos para não fazer parte do seu presente, não é preciso perder pra aprender a dar valor e os amigos ainda se contam nos dedos.  Aos poucos você percebe o que vale a pena, o que se deve guardar pro resto da vida e o que nunca deveria ter entrado nela.  Não tem como esconder a verdade, nem tem como enterrar o passado, o tempo sempre vai ser o melhor remédio, mas seus resultados nem sempre são imediatos.

Fantasias Afetivas dos Homens e das Mulheres

Ela tem fome de amor. Ele, de sexo. Ela quer enlace. Ele não pensa em compromisso. Parecem até seres incompatíveis. Mas seus caminhos se cruzam e há uma vontade irresistível de se encaixar um no outro. Este é o "desafio do diferente". Homem e mulher têm incríveis fantasias amorosas, pensamentos silenciosos que revelam suas diferenças. O homem sonha com várias mulheres, cada uma mais maravilhosa do que a outra; a mulher sonha com um homem extraordinário, com uma paixão total. Quando o homem pensa na conquista, tem em mente o ato sexual. A mulher busca romance, envolvimento. A realização do homem acontece no encontro erótico começa e acaba ali. Para a mulher, as coisas não são tão simples, ela quer ser lembrada, fazer-se desejada depois do encontro, no dia seguinte, no outro e ainda no outro... Para o homem, o tempo passado com sua amante é um tempo livre de preocupações, de mergulho no prazer e no esquecimento. É, além do mais, um tempo recortado no meio do dia ou da noit

O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas; A mulher é o mais sublime dos ideais. O homem é o cérebro; A mulher é o coração. O cérebro fabrica a luz; O coração, o amor. A luz fecunda, o amor ressuscita. O homem é forte pela razão; A mulher é invencível pelas lágrimas. A razão convence, as lágrimas comovem. O homem é capaz de todos os heroísmos; A mulher, de todos os martírios. O heroísmo enobrece, o martírio sublima. O homem é um código; A mulher é um evangelho. O código corrige; o evangelho aperfeiçoa. O homem é um templo; a mulher é o sacrário. Ante o templo nos descobrimos; Ante o sacrário nos ajoelhamos. O homem pensa; a mulher sonha. Pensar é ter , no crânio, uma larva; Sonhar é ter, na fronte, uma auréola. O homem é um oceano; a mulher é um lago. O oceano tem a pérola que adorna; O lago, a poesia que deslumbra. O homem é a águia que voa; A mulher é o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço; Cantar é conquistar a alma. Enfim, o homem está colocado onde termina a terra;

Vende-se Tudo

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: - Que coisa triste ter que vender tudo que se tem. - Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida. Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convi

O Caderno

Eu não sei se você se recorda do seu primeiro caderno, eu me recordo do meu. Com ele eu aprendi muita coisa. Foi nele que descobri a experiência dos erros, ela é tão importante quanto à experiência dos acertos Por que vistos de um jeito certo - os erros - eles nos preparam para nossas vitórias e conquistas futuras. Por que não hà aprendizado na vida que não passe pela experiência dos erros Caderno é uma metáfora da vida. Quando erros cometidos eram demais eu me recordo que nossa professora nos sugeria que a gente virasse a página. Era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços. Ao virar a página, os erros cometidos deixavam de nos incomodar, e a partir deles a gente seguia um pouco mais crescido. O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos. Erros podem ser fontes de virtudes. Na vida é a mesma coisa: O erro tem que estar a serviço do aprendizado. Ninguém tem que ser fonte de culpas, de vergonhas. Nenhum ser humano pode ser verdadeirament

O Amor e o Valor das Diferenças

- Mas as mesinhas de cabeceira da cama têm que ser iguais! E eu pergunto: - Onde é que está escrito? Qual foi o Papa que disse? Qual o presidente que sancionou esta lei? Minha cara-metade e eu somos a prova-viva de que a melhor coisa do mundo é a diferença. Muitas das vezes, temos visões, ideias, gostos e costumes completamente diferentes, quando não opostos. Mas, incrivelmente, o que poderia ser um grande problema, na verdade é uma das rodas que fazem nossa engrenagem girar. - Mas você vai comer a sobremesa antes do almoço?! – desta vez, eu é que fiquei chocada. - E qual foi o Papa que disse que não pode? O rapaz aprende rápído... Não raro por aí, enquanto as pessoas buscam seu parceiro ideal, uma das principais exigências é que ambos vejam a vida com os mesmos olhos. Mas o que é que isso significa de verdade? “Ver a vida com os mesmos olhos” é muito mais que concordar a respeito das mesinhas de cabeceira ou da hora certa para comer a sobremesa. E é justamente por isso que me

Aprenda o Bem Com Quem te Faz Mal

Sabe aquela pessoa que te enche, te espezinha, te amola, te irrita, te dá vontade de gritar e ter um treco? Quem diria... É seu mestre. E aquela outra, que te sacaneia, te rouba, te decepciona, te prejudica? Também é seu mestre. Em algum livro budista, li certa vez sobre esta ideia e decidi colocá-la em prática. Escolhi uma pessoa chatérrima, mas com quem era obrigada a conviver, e comecei a treinar. E não é que deu certo? “Esta chata é minha mestra! Esta chata é minha mestra... com ela aprendo a ser paciente”. Algum tempo depois, eu já conseguia rir das idiossincrasias da Chata, e rio até hoje, porque finalmente fui capaz de gostar dela como ela é. E, quando ela, de novo me irrita, já não sinto culpa nem maltrato meu fígado, deixo a irritação chegar e ir embora, enquanto o dia segue. A Chata é chata mesmo, fazer o quê? E então a vida me trouxe a oportunidade de ajudar um Bicho Papão por quem já tinha nutrido péssimos sentimentos: a turma da raiva, do ressentimento, da mágoa,

A Vaidade é Uma Cegueira Incurável

Narciso, pelos pincéis de Caravaggio Mocinha mentirosa esta tal Vaidade. A gente sabe, mas é tão gostoso ouvir... melhor ainda acreditar nos absurdos que ela diz. “Você é insubstituível”. “Seu filho é ótima pessoa”. “Sua mãe é uma santa”. “Você merece este aumento mais que seu colega”. “Sua dor dói mais que a dos outros”. “Você é superior”. “O mundo é seu devedor”... Já a dona Realidade, aquela senhora de temperamento variável, que às vezes é doce, às vezes é dura e pode até mesmo ser hostil... ah, a dona Realidade preferimos não ouvir, porque ela nem sempre nos diz o que queremos; nem sempre alimenta nosso ego, nossas manias de grandeza, nossas pequenezas tão humanas, nossas idéias de felicidade, nossas exigências narcisistas... E com bengalas invisíveis nas mãos, seguimos vida afora tropeçando nos sentimentos alheios, pisando torto sobre as necessidades dos demais, porque nossa visão é curta e não enxergamos nada além dos nossos próprios pés... Pobre de quem se deixa sedu

Nada Se Perde, Tudo Se Transforma

Em nossa existência, nada vem de graça, tudo tem seu preço. Há ganhos que se transformam em perdas e perdas que, por incrível que pareça, se transformam em ganhos. Você pode ter perdido algo ou alguém - um amor, um amigo -, mas em compensação aprendeu alguma coisa. A vida é assim: cheia de contradições, de paradoxos. E tudo é aproveitável, mesmo as decepções, os reveses, as frustrações. A frase do célebre poeta português Fernando Pessoa " eu sou aquilo que perdi " explica bem isso. Ela mostra que é a forma como reagimos às perdas que determina nossa trajetória. São justamente as curvas imprevistas no caminho que definem para onde vamos e que revelam nossa força e nossa coragem. Por que algumas pessoas reagem melhor à adversidade do que outras? Por que algumas logo dão a volta por cima depois de cair do cavalo? A vida é uma corrida de obstáculos. Apesar de não escolhermos a quantidade de dificuldades que teremos de enfrentar, podemos escolher como vamos enfrentá-las. Toda

Tentar Mudar o Outro

Parece fácil amar outra pessoa. Porém, a convivência diária traz aborrecimentos e os gestos românticos se escasseiam. Uma conversa franca pode complicar em vez de resolver. Não tente encaixar o outro na forma que você idealizou. Apenas o aceite. No mundo de esperanças, medos, prazeres e lágrimas. O que mantém o vínculo são dezenas de fios invisíveis - segredos compartilhados, promessas cumpridas - que ligam uma pessoa à outra através dos anos. Um mundo feito de corações que se escutam, racham, quebram e voltam a se colar. No começo parece tão fácil amar outra pessoa. E o sexo... Bem, o sexo é divino. Os olhares, sorrisos e gestos falam mais do que as palavras. É tão bom descobrir de quantas formas diferentes somos capazes de compartilhar, de nos fundir com a pessoa que amamos... Acontece que junto com as afinidades vêm as hostilidades geradas pelo conflito de querer amar e de se sentir obrigado a amar. A familiaridade com o companheiro traz à tona suas imperfeições. Pequenos abor

O Susto de se descobrir apaixonado

Apaixonar-se pode significar viver uma sucessão de quedas livre, pois o amor permite experimentar raras emoções e perigosas sensações. Da fase inicial de deslumbramento à desejada etapa de intimidade madura os sabores são muito variados. Para a criança, perguntamos: "você me ama?", "quanto?". Então, ela abre os braços e mostra "esse tanto", porque na infância só existe pensamento concreto. Mais tarde na vida, tentamos demonstrar de muitas e muitas maneiras quanto é "esse tanto". A psicanálise ensina que aqueles que foram bem amados na infância procuram encontrar um companheiro para recriar o paraíso perdido, enquanto os que sofreram privação, não foram desejados nem amados, buscam alguém para compensar este vazio. Então vamos pela vida querendo amar para copiar ou para compensar. Mas tudo isso com medo, medo de abrir o coração, porque quando agimos assim ficamos vulneráveis à desilusão, à rejeição. É assustador amar. O escritor irlandês Osca

Percepção

Quero sua aproximação lenta e suavemente. Venha andando devagar para que eu possa decorar seus passos e traga o brilho do seu sorriso como cartão de visitas. Deixe-me ouvir o som da sua voz como minha canção predileta, e só termine a música quando perceber que o sono, teimoso, me venceu. Me fale da sua solidão, o que fez enquanto esteve só no meio de tanta gente e perceba nas minhas linhas que caminhamos por estradas diferentes - mas na mesma direção. Nos desencontros aprendemos a escolher. No solo difícil tropeçamos com equilíbrio. Na subida nos esforçamos. Na descida, fomos com cuidado. E no caminho sem saída voltamos... Amadurecemos e estamos vivendo esse exato momento. Estamos, não somos. Agora nos resta trocar as fotos daquele tempo. Permita-me ver o que fotografou e fique à vontade em meu álbum. Percebe alguma similaridade? Me perdoe a ousadia, mas te faço um pedido: Numa pequena caixa, cuidadosamente embalada, quero um presente: Me dê a sua amizade! Não quero que ela seja a

As Mulheres de 30

      O que mais as espanta é que, de repente, elas percebem que já são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram A Mulher de Trinta , de Honoré de Balzac, escrito há mais de 150 anos. Olhe o que ele diz: "Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. [...]Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer." Madame Bovary, outra francesa trintona, era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer diante dos tribunais: 'Madame Bovary c'est moi' . E a Marilyn Monroe, que fez tudo aquilo entre 30 e 40? Mas voltemos a nossa mulher de 30, a brasileira-tropicana, aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinh

Passeio Socrático

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?' Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei.. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu

A Solidão Amiga

      A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão... Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se,

Abraça-me

      Uma química delicada se produz entre duas pessoas que se sentem atraídas uma pela outra. O encontro se faz quase sempre pelo olhar. Segue-se a participação da boca, primeiro em sorrisos, depois em palavras. Aí vai surgindo o desejo de tocar, de abraçar. Pesquisadores dizem que precisamos de seis abraços por dia para não nos sentirmos carentes. Por que seis?Talvez porque um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda, quatro então nem se fala ... Nossos braços servem para abraçar, enlaçar. Só que cada abraço tem que ser sentido, vivido. Como diz o terapeuta paulistano José Ângelo Gaiarsa, você não toca no outro como se ele fosse uma cadeira, senão você está coisificando o outro. Acontece que o outro é de carne e osso, parecido com você, por isso, o gesto não pode ser impensado, mecânico, automatizado. As pessoas estão cansadas do gesto maquinal que não reflete nada. Quando eu toco o outro, que está além das fronteiras do meu próprio corpo, eu o sinto e sinto a mim mesma simultanea

Insistir ou Desistir?

Com a maioria de nós, alguma vez na vida, já aconteceu de começar uma relação, sentir-se envolvido e satisfeito com muitas coisas, mas... - e quando tem o “mas...” é porque alguma coisa precisa ser cuidada! Acontece que, paralelamente aos pontos positivos, percebemos diferenças gritantes, ritmos desencontrados e, frequentemente, nos pegamos com desejos adversos. Num dia tá tudo bem; no seguinte, as atitudes - ou as palavras - do outro nos deixam inseguros e confusos. Numa hora parece que ele quer; na outra, parece que não muito. Às vezes, parece que se importa; noutras, a sensação é de que ‘tanto faz’. A gente quase conclui que não sabe com quem está lidando, pois os detalhes e as entrelinhas da relação vão desenhando uma personalidade que chega a ser contraditória em muitos momentos. Daí vem a dúvida: insistir ou desistir? Se insistirmos, a tendência é nos envolvermos mais e mais e a previsão parece certa: decepções e frustrações cada vez mais recorrentes. Se desistirmos, o que r

Aceitando as Diferenças

Tenho tentado mostrar como nosso relacionamento com as outras pessoas é, na realidade, uma espécie de monólogo no qual esperamos encontrar no outro um espelho de nós mesmos. Isso só ocorre porque somos inseguros e toleramos mal as diferenças de opinião – que nos deixam em dúvida sobre nossas próprias posições – e nos lembram a condição de solidão, da qual tentamos fugir o tempo todo. Se não somos iguais, cada vez que conhecemos uma pessoa temos de nos dedicar a tentar saber quem ela é. Sim, porque já sabemos que não é obrigatório que ela pense, sinta, julgue e aja como nós. É evidente que deve haver alguns pontos em comum; porém, o importante é detectar com precisão as diferenças, condição indispensável para podermos fazer previsões em relação aos possíveis comportamentos dessa pessoa. Assim, iniciamos o processo de entrar em sua alma, descobrir como ela funciona e, por alguns minutos, vivenciar as coisas sob aquele ponto de vista. A isso chamamos de empatia. Este processo é comple

O Amor no Terceiro Milênio (Le Lis Branc)

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início desde milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossas felicidades, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser ag

Uma Pessoa Verdadeiramente Forte

A gente costuma ouvir que uma pessoa é forte, que tem gênio forte, quando ela reage com grande violência em situações que a desagradam. Ou seja, a pessoa de temperamento forte só está bem e calma quando tudo acontece exatamente de acordo com a vontade dela. Nos outros casos, sua reação é explosiva e o estouro costuma provocar o medo nas pessoas que a cercam. Talvez essas pessoas sejam responsáveis por chamar o estourado de forte, porque acabam se submetendo à vontade dele. Ele é forte porque consegue impor sua vontade, quase sempre por conta do medo que as pessoas têm do seu descontrole agressivo e de sua capacidade para fazer escândalo. Se pensarmos mais profundamente, perceberemos que as pessoas de "gênio forte" conseguem fazer prevalecer seus desejos apenas nas pequenas coisas do cotidiano. Elas decidirão a que restaurante os outros irão; a que filme o grupo irá assistir; se a família vai para a praia no fim de semana e assim por diante. As coisas verdadeiramente importan

Modos de Amar

Uma das frases que estamos acostumados a ouvir é: ‘Eu amo a meu modo’. É claro que isso é dito em consequência das queixas e insatisfações do companheiro, que se sente pouco atendido em suas pretensões de carinho e atenção. Será mesmo que existem vários modos de amar? Ou será que a hipótese é usada, de má-fé, para encobrir a falta da capacidade de amar? Há pessoas que gostam – e necessitam – de relações afetivas próximas e intensas, ao passo que outras preferem relações mais frouxas. Quando duas pessoas com expectativas amorosas diferentes se unem, é claro que aquela que espera um relacionamento mais intenso fica insatisfeita, mesmo quando o parceiro se dedica a ela da forma mais leal e honesta. Acho que talvez seja mais adequado pensar em diferentes graus de intensidade amorosa em vez de pensar em diferentes formas de amar. Sim, porque esta última forma de raciocinar abre as portas para muitos tipos de comportamento claramente egoístas, em que se podem usar palavras de natureza amor

O Último Discurso

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio, negros... brancos... Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem; levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.  Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. M