Skip to main content

Percepção



Quero sua aproximação lenta e suavemente. Venha andando devagar para que eu possa decorar seus passos e traga o brilho do seu sorriso como cartão de visitas. Deixe-me ouvir o som da sua voz como minha canção predileta, e só termine a música quando perceber que o sono, teimoso, me venceu.

Me fale da sua solidão, o que fez enquanto esteve só no meio de tanta gente e perceba nas minhas linhas que caminhamos por estradas diferentes - mas na mesma direção. Nos desencontros aprendemos a escolher. No solo difícil tropeçamos com equilíbrio. Na subida nos esforçamos. Na descida, fomos com cuidado. E no caminho sem saída voltamos... Amadurecemos e estamos vivendo esse exato momento. Estamos, não somos.

Agora nos resta trocar as fotos daquele tempo. Permita-me ver o que fotografou e fique à vontade em meu álbum. Percebe alguma similaridade?

Me perdoe a ousadia, mas te faço um pedido: Numa pequena caixa, cuidadosamente embalada, quero um presente: Me dê a sua amizade! Não quero que ela seja a maior de todas. Não precisa ser a mais intensa e cheia de declarações. Também não faço questão que seja eterna. Peço apenas que ela seja sincera. Tenho andado por lugares diferentes e não consigo mais encontrar verdade pelo caminho.

Então você pensará: O que ganharei em troca? Não se preocupe, esse não é um pensamento mesquinho. E antecipo sua resposta: Te darei algumas linhas – publicadas em verso ou não - que irão expressar tudo aquilo que você mesma plantou em minha essência. Sei que este não é um pagamento apropriado pela sua amizade, mas certamente é a forma mais pura de deixar você se perceber em mim.

Alexandre Barreto

Comments

Popular posts from this blog

Pra Rua Me Levar* - e Divagações**

“Não vou viver como alguém que só espera um novo amor,  há outras coisas no caminho onde eu vou.  Às vezes ando só trocando passos com a solidão,  momentos que são meus e que não abro mão.” O que é o tão descrito amor e quais os sentimentos que ele envolve? As pessoas hoje em dia confundem muito – e talvez nem saibam – o que de fato representa o amor. Sem respeito, admiração, companheirismo, cumplicidade, alegria, realização e tantos outros detalhes, o amor nunca pode acontecer plenamente dentro de alguém. Por isso mesmo, o amor compreende muito mais que um único sentimento na vida das pessoas e nunca pode andar divorciado de outras ações. Existem momentos em que somos forçados a andar sozinhos - trocar passos com a solidão. Não porque queremos, mas porque não existe outra opção. Essa caminhada acaba sendo necessária, mesmo porque, a solidão não deve assustar e nem comprometer o sono: Passado algum tempo de aprendizado você passa a se conhecer, aceitar e ser feliz, independente de

O Lado Fatal

I Quando meu amado morreu, não pude acreditar: andei pelo quarto sozinha repetindo baixo: "Não acredito, não acredito." Beijei sua boca ainda morna, acarinhei seu cabelo crespo, tirei sua pesada aliança de prata com meu nome e botei no dedo. Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso. Muita gente veio e se foi. Olharam, me abraçaram, choraram, todos com ar de incrédula orfandade. Aquele de quem hoje falam e escrevem (ou aos poucos vão-se esquecendo) é muito menos do que este, deitado em meu coração, meu amante e meu menino ainda. II Deus (ou foi a Morte?) golpeou com sua pesada foice o coração do meu amado (não se vê a ferida, mas rasgou o meu também). Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado, disse bem alto meu nome no quarto de hospital, e partiu. Quando se foram também os médicos e sua máquinas inúteis, ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?) o meu amado e eu. Enterrei o rosto na curva do seu ombro como sempre fazia, disse as palavras de amor que costumávamos trocar. O silêncio

La Marioneta de Trapo

Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mario Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos