Skip to main content

Aprender a Amar



"No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudicam, 
mas sim a maneira de proceder, depois de as termos praticado."
Ovídio

Amar e ser amado é, sem dúvida, o maior desejo do ser humano e, por isso mesmo, a maior fonte de suas frustrações.

Muitas pessoas reclamam de seu destino, pelo fato de não terem sido contempladas com um grande e definitivo amor. Mas a realidade é que um grande amor é fruto de sua maneira de existir.

Amar, jogar xadrez, cozinhar… qualquer atividade tem três fases, em seu processo de aprendizagem: a primeira é a da alienação, da falta de consciência. Começamos pensando que já sabemos muito. No caso do amor, acreditamos que amamos bastante, corretamente, que nos entregamos. Nem bem começamos, já nos consideramos mestres.

A segunda é a fase da aprendizagem, quando descobrimos que não sabemos nada. Então, traçamos um objetivo e queremos aprender o máximo possível. É a etapa da técnica, do treinamento metódico para atingir um determinado fim. No amor é necessário desenvolver um treinamento para viver junto a alguém - treinar diálogos sem manipulação, treinar sair para dançar, divertir-se, treinar relações sexuais satisfatórias, treinar estar com os filhos sem ficar pensando em sair ou dar telefonemas etc.

A terceira fase é a da sabedoria. Quando não existe o "eu" nem o "tu", mas a comunhão do momento; quando não há homem nem mulher isoladamente, mas o "nós". É a etapa que transcende às individualidades.

O ato de amar só pode ser desenvolvido com disciplina, humildade e coragem. Nós já nascemos sabendo amar. É como respirar - ninguém precisa aprender a fazê-lo. Mas, depois de tantas repressões, o amor fica contido. Então nós precisamos voltar a aprender a amar. E, para aprender a amar bem, precisamos de um trabalho cuidadoso e da consciência do quanto amamos mal.

Muitas pessoas agem como se soubessem, perfeitamente, como se ama. O que não deixa de ser verdade! Esse tesouro está guardado dentro de cada um de nós; mas para alcançá-lo é preciso, com muita humildade, manter disciplina e carinho para com nossos atos de amor, como se conhecêssemos muito pouco deles. Ao ter de desativar uma bomba, mesmo um grande perito em explosivos age com muito cuidado e precaução, como se nada conhecesse dela, porque uma pequena modificação no artefato pode acabar com tudo.

Uma postura interessante é pensar que existe algo que já se sabe, mas que o melhor será começar a aprender de novo. Nós aprendemos a demonstrar nossos sentimentos afetivos, originalmente, expressando as nossas sensações em relação aos nossos pais.

Tivemos, como modelo, a maneira com que eles expressavam o seu carinho e o seu amor por nós. E crescemos, muitas vezes, sem dar-nos conta de que crescemos e de que a pessoa amada não é mais mamãe nem papai, que foram nossos mestres nas primeiras lições afetivas.

Saber amar é estar atualizado com os próprios desejos, com os desejos do parceiro e com a maneira mais adequada e especial de concretizá-los.

Roberto Shinyashiki

Comments

Popular posts from this blog

Pra Rua Me Levar* - e Divagações**

“Não vou viver como alguém que só espera um novo amor,  há outras coisas no caminho onde eu vou.  Às vezes ando só trocando passos com a solidão,  momentos que são meus e que não abro mão.” O que é o tão descrito amor e quais os sentimentos que ele envolve? As pessoas hoje em dia confundem muito – e talvez nem saibam – o que de fato representa o amor. Sem respeito, admiração, companheirismo, cumplicidade, alegria, realização e tantos outros detalhes, o amor nunca pode acontecer plenamente dentro de alguém. Por isso mesmo, o amor compreende muito mais que um único sentimento na vida das pessoas e nunca pode andar divorciado de outras ações. Existem momentos em que somos forçados a andar sozinhos - trocar passos com a solidão. Não porque queremos, mas porque não existe outra opção. Essa caminhada acaba sendo necessária, mesmo porque, a solidão não deve assustar e nem comprometer o sono: Passado algum tempo de aprendizado você passa a se conhecer, aceitar e ser feliz, independente de

O Lado Fatal

I Quando meu amado morreu, não pude acreditar: andei pelo quarto sozinha repetindo baixo: "Não acredito, não acredito." Beijei sua boca ainda morna, acarinhei seu cabelo crespo, tirei sua pesada aliança de prata com meu nome e botei no dedo. Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso. Muita gente veio e se foi. Olharam, me abraçaram, choraram, todos com ar de incrédula orfandade. Aquele de quem hoje falam e escrevem (ou aos poucos vão-se esquecendo) é muito menos do que este, deitado em meu coração, meu amante e meu menino ainda. II Deus (ou foi a Morte?) golpeou com sua pesada foice o coração do meu amado (não se vê a ferida, mas rasgou o meu também). Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado, disse bem alto meu nome no quarto de hospital, e partiu. Quando se foram também os médicos e sua máquinas inúteis, ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?) o meu amado e eu. Enterrei o rosto na curva do seu ombro como sempre fazia, disse as palavras de amor que costumávamos trocar. O silêncio

La Marioneta de Trapo

Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mario Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos