Skip to main content

Brisa


Engraçado perceber como grandes perdas nos fazem valorizar pequenas coisas. Olhar pra trás e sentir falta daqueles momentos que não foram tão felizes, pode ser um excelente exercício para entendermos que, mesmo nas dificuldades, podemos tirar algo de bom. Houve aprendizado. Nada é por acaso.

Acho mesmo que as perdas são inevitáveis na vida, mas o grande desafio é a mudança. Sim, a mudança dos sentimentos.

Quando a gente muda de casa colocamos tudo em caixas, separamos por áreas e etiquetamos para facilitar na hora da realocação. Às vezes vamos para casas maiores e ainda que não existam tantos armários, conseguimos espaço para guardar tudo. O problema é quando a gente se muda para casas menores.

Com sentimentos deveria ser fácil também, mas não é bem assim. Empacotar todos os sentimentos e carregá-los até encontrar um novo motivo para abrir as caixas nem sempre é tão simples. A gente acaba não se dando conta que na maior parte das vezes o que dói mesmo é a quebra da rotina. A gente não sabe muito bem o que fazer com todo aquele tempo que a gente dedicava e o sentimento de vazio provocado pela perda acaba sendo inevitável.

O que fazer com aquela rotina da conversa depois do dia de trabalho?!? Aquela brecha na hora corrida do almoço?!? E os sábados no cinema ou na caminhada pela Lagoa?? Aqueles domingos em família que a gente curtia e os sorrisos que transbordavam referências nossas, como fazer agora?

Não dá pra deixar tudo pra trás. A gente cresceu naquela relação que não existe mais e as felicidades, dores e rotinas são partes importantes de nós. Mas saber que nosso passado não precisa, necessariamente, fazer parte do nosso futuro é a parte essencial do nosso amadurecimento:

O passado deve servir como experiência, não como referência.

A transição perfeita de uma relação pra outra deveria então envolver sincronicidade entre o fechar de uma porta e o abrir de outra. A escolha pacífica de novas rotinas e a aceitação de que nada é para sempre. Mas sincronicidade na vida é algo bem raro.

Quanto ao tempo, aliás, o que dura pra sempre? Qual é o tempo exato do sempre? Quem deve determinar a validade de algo? Que preço devemos pagar pelo "pra sempre"?!?

Seja gentil, fiel aos seus princípios, aprenda a lidar com as perdas e abrace com vontade tudo que chega pra te fazer bem.

Que o amor sempre nos dê suporte para reconstruirmos tudo a partir do nada.

Nunca se esqueça: O amor é aquela brisa tranquila que provoca sorrisos involuntários quando atinge o seu rosto.

Alexandre Barreto


InstagramAlex Barreto
FacebookAlex Barreto



*[Sobre a foto] Sábado em família: 24/10/2009 às 20:36h.
Final de semana no kitnete de final de vila que servia como residência.
Um dentre tantos finais de semana, onde as únicas coisas que faríamos, estariam resumidas a um bolo com massa pronta comprada no supermercado e assistir TV aberta deitados no colchonete. Éramos felizes. Somos.

Comments

Popular posts from this blog

Pra Rua Me Levar* - e Divagações**

“Não vou viver como alguém que só espera um novo amor,  há outras coisas no caminho onde eu vou.  Às vezes ando só trocando passos com a solidão,  momentos que são meus e que não abro mão.” O que é o tão descrito amor e quais os sentimentos que ele envolve? As pessoas hoje em dia confundem muito – e talvez nem saibam – o que de fato representa o amor. Sem respeito, admiração, companheirismo, cumplicidade, alegria, realização e tantos outros detalhes, o amor nunca pode acontecer plenamente dentro de alguém. Por isso mesmo, o amor compreende muito mais que um único sentimento na vida das pessoas e nunca pode andar divorciado de outras ações. Existem momentos em que somos forçados a andar sozinhos - trocar passos com a solidão. Não porque queremos, mas porque não existe outra opção. Essa caminhada acaba sendo necessária, mesmo porque, a solidão não deve assustar e nem comprometer o sono: Passado algum tempo de aprendizado você passa a se conhecer, aceitar e ser feliz, independente de

O Lado Fatal

I Quando meu amado morreu, não pude acreditar: andei pelo quarto sozinha repetindo baixo: "Não acredito, não acredito." Beijei sua boca ainda morna, acarinhei seu cabelo crespo, tirei sua pesada aliança de prata com meu nome e botei no dedo. Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso. Muita gente veio e se foi. Olharam, me abraçaram, choraram, todos com ar de incrédula orfandade. Aquele de quem hoje falam e escrevem (ou aos poucos vão-se esquecendo) é muito menos do que este, deitado em meu coração, meu amante e meu menino ainda. II Deus (ou foi a Morte?) golpeou com sua pesada foice o coração do meu amado (não se vê a ferida, mas rasgou o meu também). Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado, disse bem alto meu nome no quarto de hospital, e partiu. Quando se foram também os médicos e sua máquinas inúteis, ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?) o meu amado e eu. Enterrei o rosto na curva do seu ombro como sempre fazia, disse as palavras de amor que costumávamos trocar. O silêncio

La Marioneta de Trapo

Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mario Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos