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Vícios e Virtudes

Eu apenas queria que você soubesse que toda aquela alegria que vivemos juntos, trouxe comigo. Todas as lembranças dos momentos felizes estão aqui. Nossos sonhos, desejos, projetos, e até mesmo nosso silêncio, veio pra cá. Mas pra falar a verdade, não sei bem onde os coloquei.

Não sei se está embaixo da montanha de ciúmes que eu sinto por você ou naqueles sacos enormes e pesados que guardam minhas inseguranças. Talvez esteja escondido sob as toneladas de expectativas que eu tinha. Ou será que ficaram embaixo dos lençóis dos meus medos?!?

Bom, o importante mesmo é que eu trouxe tudo comigo. Preciso agora saber o que farei com tanto sentimento bom escondido embaixo de todos os meus defeitos.

Se eu encontrasse aquela alegria de viver ao teu lado, correria pra te mostrar. Faria questão de experimentar tudo igualzinho mais uma vez e te olharia admirando seus olhos sorrirem pra mim novamente. Buscaria os mesmos motivos bobos que nos fizeram pessoas tão felizes, e repetiria tudo ainda que já soubesse do final.

Se eu encontrasse nossas lembranças, falaria baixinho cada uma delas enquanto você estivesse pronta pra dormir. Eu as diria sussurrando enquanto velasse o teu sono, e mesmo que você estivesse dormindo, continuaria a contá-las - é assim que você faz comigo: fala mesmo enquanto durmo.

Se eu encontrasse nossos sonhos, pegaria algumas folhas em branco e escreveria rapidinho todos eles. Sem pensar duas vezes, pediria que você assinasse comigo no final de cada uma das folhas para que soubéssemos que todos eles viraram compromissos e um dia sairiam do papel para acontecerem em nossas vidas.

Se eu encontrasse nosso silêncio, faria questão de mostrá-lo naquele momento em que o sol deixa atravessar pela janela do seu quarto seus primeiros raios. Te daria cada minuto do nosso silêncio bem quietinho esperando que você abrisse os olhos para o novo dia. Nosso silêncio seria nossa primeira companhia em outro dia novinho ao teu lado.

Pensando bem, tenho que me livrar de tudo isso que não me deixa encontrar o que é bom. Jogar fora tudo que esconde meus pequenos e grande prazeres. Me libertar do peso que ainda me acorrenta na minha própria fragilidade humana.

A verdade é que a gente mesmo escolhe o que vai carregar na vida, tanto nossos valores, quanto nossos confortáveis e já conhecidos defeitinhos. E por mais injusto que possa parecer, o peso dos defeitos que carregamos não nos permite enxergar a leveza das nossas virtudes.

Como você não está mais por aqui, não tenho outra opção: Tenho que arrumar tudo sozinho mesmo. Afinal, a bagunça é minha. Nada mais justo.


Alexandre Barreto





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