Skip to main content

Cultuando a Vítima


Estava pensando em como a vida nos dá tantas oportunidades de liberar o passado e as memórias equivocadas - e muitas vezes não aproveitamos isso porque uma parte da gente é muito apegada a ser vítima e tem um ganho de estar nessa posição.

Quantas vezes colocamos nossas dores em um altar e passamos a vida a serviço delas. Isso pode acontecer de forma tão sutil que nem percebemos - ou de forma tão clara, como vemos, muitas vezes, em pessoas que vivem cultuando a sua dor e passam tanto tempo identificados com o sofrimento, que acabam acreditando que aquilo é parte inseparável delas, se adaptam tanto a ser daquela forma que, um dia, podem perceber que a vida está passando... e com ela a possibilidade de viver plenamente fica profundamente limitada pelo apego ao que faz sofrer.

Elas reclamam e reclamam e nem percebem que o reclamar já tira toda a energia que poderia ser usada para fazer alguma coisa para liberá-las do sofrimento. Parece que sentem prazer em reclamar e em contar suas inúmeras dores, tornando isso uma parte tão arraigada delas que até já vi pessoas que contam seus sofrimentos com uma certa alegria. Mas será que é só esse tipo de alegria que merecemos?

Existem pessoas, em maior ou menor grau que cultuam a dor de tal forma, transformando-se em eternas vítimas - e a vítima nunca pode se libertar, porque acredita que depende de algo fora dela: sempre existe um culpado, seja uma pessoa, uma situação, o destino... Enfim, o que não falta é algo fora para ser considerado o algoz e, como vítimas inocentes, não podemos fazer nada porque dependemos de uma ação do outro. Acreditamos que dependemos de algo fora de nós para nos libertar... E, com isso, usamos a dor ou sofrimento como justificativa para não vivermos muitas coisas.

Quantas vezes usamos as nossas dores e sofrimentos como "desculpas" para não fazer isso ou aquilo, para não participar da vida que pulsa presente em cada minuto em que respiramos. Ao passo que existem pessoas que teriam todas as "desculpas" para se limitarem, e que vão em frente apesar das dores e sofrimentos e, em exemplos emocionantes de superação, aproveitam todas as oportunidades que a vida oferece, ultrapassando em muito os limites do que acreditávamos ser possível.

Uma chave preciosa para sairmos do estado de vítimas é assumirmos 100% de responsabilidade por tudo que nos acontece e passarmos a olhar para todas as situações como oportunidade de liberação. Seja o que for que nos faz sentir "vitimas", podemos olhar para aquilo como algo que está nos mostrando fora, o que temos dentro e que precisa ser liberado para que possamos prosseguir com nossa evolução.

Precisamos ver fora o reflexo do que temos dentro porque de outra forma não conseguiríamos nos libertar e nos tornar quem verdadeiramente somos. E o que somos não tem nada a ver com "ser vítima" de nada nem de ninguém. Somos seres plenos e co-criadores da nossa realidade...

Será que vamos passar a vida encontrando justificativas e desculpas para não viver.ou vamos usar todas as oportunidades que ela nos oferece, dia após dia, para nos libertar do que prende e limita e acessar todo o potencial de Humanos tão Divinos que Somos?

Rubia A. Dantés

Comments

Popular posts from this blog

A Vida é uma Porcaria

Sim, a vida é mesmo uma porcaria! Não importa se você é rico, pobre, alto, magro, gordo, feio, bonito, famoso, forte, fraco, tímido, divorciado, casado, com filhos, com netos, bêbado, sóbrio ou ainda burro e ignorante. A vida é uma porcaria. Como eu sei disso? É bem óbvio. Basta observar as pessoas por aí. Existem dois tipos de pessoas. As que sabem que a vida é uma porcaria, como eu e aquelas que por algum motivo cretino tirado de não sei aonde, acham que a vida deve ser boa, ou melhor, que é boa. Eu explico. Na vida de todo mundo, sempre vão acontecer mais coisas ruins do que coisas boas, seja por azar, seja por inapetência, seja por vingança ou até por uma questão de expectativas. Basta olhar os animais nos documentários da TV, vocês já viram o inferno que eles passam para comer e fazer sexo? As vezes eles passam uma semana inteira no “rock and roll” para comer uma droga de um rato (no caso das corujas, coitadas). E os gafanhotos que finalmente quando conseguem copul...

HOJE: Lembrar de Esquecer Você

Hoje eu lembrei de esquecer você mais um pouquinho. O plano está dando certo porque nem precisei apelar pro recadinho que colei na porta da geladeira. Aos poucos consigo te enxergar como uma pessoa normal, comum, exatamente como eu. Não preciso mais olhar lá pra cima, na direção da admiração sublime, para te ver... Faz parte. Não, quer dizer, fez parte. Acho mesmo que meu maior receio era me deixar perdido dentro de você e ir embora. Como me reencontraria? Como seria o recomeço faltando pedaços? Mas isso tudo é lenda que as pessoas inseguras nos contam. O desapego ocorre aos poucos, devagar. A gente vai lembrando menos, falando menos, tocando menos. A gente elege outras prioridades, inventa novas necessidades e vai seguindo assim. Acontece mais ou menos como viver um conto de fadas ao contrário: Cria novos heróis para esquecer os vilões que, acredite, um dia foram heróis. É uma conta que não bate, mas quem disse que existe lógica em tudo?! Não quero encontrar lógica...

O Lado Fatal

I Quando meu amado morreu, não pude acreditar: andei pelo quarto sozinha repetindo baixo: "Não acredito, não acredito." Beijei sua boca ainda morna, acarinhei seu cabelo crespo, tirei sua pesada aliança de prata com meu nome e botei no dedo. Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso. Muita gente veio e se foi. Olharam, me abraçaram, choraram, todos com ar de incrédula orfandade. Aquele de quem hoje falam e escrevem (ou aos poucos vão-se esquecendo) é muito menos do que este, deitado em meu coração, meu amante e meu menino ainda. II Deus (ou foi a Morte?) golpeou com sua pesada foice o coração do meu amado (não se vê a ferida, mas rasgou o meu também). Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado, disse bem alto meu nome no quarto de hospital, e partiu. Quando se foram também os médicos e sua máquinas inúteis, ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?) o meu amado e eu. Enterrei o rosto na curva do seu ombro como sempre fazia, disse as palavras de amor que costumávamos trocar. O silêncio ...