Skip to main content

A nova identidade masculina

Há muitas décadas as mulheres têm feito uma constante reflexão sobre sua nova identidade e seu papel na sociedade. Não faltam oportunidades para que elas se reunam em torno destas questões. No dia internacional da mulher, em congressos, nos livros, noutras publicações, em praticamente toda a mídia, se discute a libertação da mulher do domínio masculino e as novas perspectivas para sua vida.

Produto disto tem sido uma nova mulher, muito mais bonita, bem cuidada, inteligente, ousada, responsável e surpreendente.

E os homens? O que aconteceu com eles durante este tempo? Qual é mesmo o dia dos homens?

O que sabemos é que tradicionalmente eles não gostam de discutir a relação ou de levar nenhum papo cabeça, de mais consciência. Em parte porque não lhes interessa, pois não convém questionar seu ponto de vista machista. Por outro lado, falta-lhes habilidade para compreender seus sentimentos e expressá-los com clareza. O problema é que agora não é mais possível se abster do diálogo impunemente.

Os valores machistas estão indo por água abaixo e hoje em dia um homem que ouse defender publicamente este ponto de vista está sujeito a ser execrado. Mas nós sabemos que no dia-a-dia muitos homens ainda acreditam que as mulheres vivem para serví-los. São homens folgados que não se comprometem, mentem, não são claros na comunicação, manipulam.

O problema ainda não terminou e nem vai terminar enquanto os pais e mães continuarem a criar meninos folgados, não colaborativos, acostumados com mulheres que façam tudo por eles. Um garoto criado desta forma se tornará um homem que se sente superior às mulheres.

Em um modo de produção antigo, a força física dos homens os colocava em uma posição de poder, mas agora, quando tudo é mecanizado, automatizado e informatizado, vai melhor quem se comunica bem, quem se dedica ao trabalho, quem tem imaginação ou boas ideias. E as mulheres têm se mostrado cada vez mais aptas para a nova era que se aproxima.

Sem a presença do machismo, o que vemos são homens fracos, sem atitude, amendrontados diante da nova mulher. Um homem sem forma, sem identidade. Mas, qual o motivo disto? Por que os homens estão assim?

Em uma época antiga, quando o modo de produção era apoiado na manufatura artesanal, era comum que um jovem crescesse na presença do pai, do tio ou do avô, aprendendo um ofício. Enquanto trabalhanvam exerciam também a arte da conversação, quando muitos valores eram passados dos mais velhos para os mais novos.

Mas, esta cultura foi ficando para trás. Os homens da casa se ausentaram, foram trabalhar nas indústrias, nos escritórios, deixando a educação dos jovens quase que exclusivamente sob a responsabilidade das mulheres. Elas, com toda a boa vontade, só podiam oferecer o seu jeito de ver a vida.

Faltaram e faltam até agora bons modelos masculinos. Os meninos crescem sem que sejam orientados no seu caráter. Não aprendem a serem homens e a gostar de sê-lo. Na melhor das hipóteses encontram nos meios de comunicação modelos masculinos fantasiosos, os super-heróis. Na pior das hipóteses encontram pela frente um adulto mal intencionado. Assim, crescem com um vácuo em sua formação e, quando adultos, se tornam pessoas inexpressivas, sem brilho próprio.

Em algumas culturas distantes os meninos, quando atingem a idade dos 14 anos, passam por um forte ritual de iniciação à vida masculina adulta, quando aprendem com os mais velhos a serem fortes e respeitadores ao mesmo tempo. Em nossa cultura contemporânea não encontramos nada semelhante.

Para as meninas, a menstruação funciona naturalmente como uma espécie de ritual de passagem para a vida feminina adulta. Além disto, nos últimos tempos, as mulheres se uniram para ocupar um espaço mais digno na sociedade. Mas, para os meninos esta passagem para a vida adulta não é muito clara, nem tão evidente assim.

Felizmente já temos notícia de um novo homem. São rapazes que compreenderam que homens e mulheres devem ter um relacionamento de igual para igual. São homens que já entenderam que sua força vem das virtudes desenvolvidas: disciplina, ter palavra, integridade, solidariedade. Aprenderam que ser generoso e dar suporte aos outros é um caminho nobre.

Este novo homem também já aprendeu que pode chorar, que pode sensibilizar-se, que pode conversar, mostrando seus sentimentos.

É deste homem que a humanidade precisa: poderoso e sensível ao mesmo tempo. É este homem que as mulheres esperam encontrar.

Creio que a evolução do comportamento aponta para um novo homem e uma nova mulher que se distingam muito mais como pessoas e menos pelos papéis pobremente definidos pelos gêneros. Afinal, todos nós podemos nos tornar uma espécie de gerreiros pacíficos.

O poder não precisa mais continuar nas mãos de pessoas inescrupulosas, mas pode ser apropriado por homens e mulheres que misturam força e sensibilidade. 

Sérgio Savian

Comments

Popular posts from this blog

A Vida é uma Porcaria

Sim, a vida é mesmo uma porcaria! Não importa se você é rico, pobre, alto, magro, gordo, feio, bonito, famoso, forte, fraco, tímido, divorciado, casado, com filhos, com netos, bêbado, sóbrio ou ainda burro e ignorante. A vida é uma porcaria. Como eu sei disso? É bem óbvio. Basta observar as pessoas por aí. Existem dois tipos de pessoas. As que sabem que a vida é uma porcaria, como eu e aquelas que por algum motivo cretino tirado de não sei aonde, acham que a vida deve ser boa, ou melhor, que é boa. Eu explico. Na vida de todo mundo, sempre vão acontecer mais coisas ruins do que coisas boas, seja por azar, seja por inapetência, seja por vingança ou até por uma questão de expectativas. Basta olhar os animais nos documentários da TV, vocês já viram o inferno que eles passam para comer e fazer sexo? As vezes eles passam uma semana inteira no “rock and roll” para comer uma droga de um rato (no caso das corujas, coitadas). E os gafanhotos que finalmente quando conseguem copul...

HOJE: Lembrar de Esquecer Você

Hoje eu lembrei de esquecer você mais um pouquinho. O plano está dando certo porque nem precisei apelar pro recadinho que colei na porta da geladeira. Aos poucos consigo te enxergar como uma pessoa normal, comum, exatamente como eu. Não preciso mais olhar lá pra cima, na direção da admiração sublime, para te ver... Faz parte. Não, quer dizer, fez parte. Acho mesmo que meu maior receio era me deixar perdido dentro de você e ir embora. Como me reencontraria? Como seria o recomeço faltando pedaços? Mas isso tudo é lenda que as pessoas inseguras nos contam. O desapego ocorre aos poucos, devagar. A gente vai lembrando menos, falando menos, tocando menos. A gente elege outras prioridades, inventa novas necessidades e vai seguindo assim. Acontece mais ou menos como viver um conto de fadas ao contrário: Cria novos heróis para esquecer os vilões que, acredite, um dia foram heróis. É uma conta que não bate, mas quem disse que existe lógica em tudo?! Não quero encontrar lógica...

O Lado Fatal

I Quando meu amado morreu, não pude acreditar: andei pelo quarto sozinha repetindo baixo: "Não acredito, não acredito." Beijei sua boca ainda morna, acarinhei seu cabelo crespo, tirei sua pesada aliança de prata com meu nome e botei no dedo. Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso. Muita gente veio e se foi. Olharam, me abraçaram, choraram, todos com ar de incrédula orfandade. Aquele de quem hoje falam e escrevem (ou aos poucos vão-se esquecendo) é muito menos do que este, deitado em meu coração, meu amante e meu menino ainda. II Deus (ou foi a Morte?) golpeou com sua pesada foice o coração do meu amado (não se vê a ferida, mas rasgou o meu também). Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado, disse bem alto meu nome no quarto de hospital, e partiu. Quando se foram também os médicos e sua máquinas inúteis, ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?) o meu amado e eu. Enterrei o rosto na curva do seu ombro como sempre fazia, disse as palavras de amor que costumávamos trocar. O silêncio ...