Skip to main content

Conquista


A gente se empenha tanto pra ter boas roupas, um bom carro, um emprego legal. Deixa o cabelo arrumado, a barba feita, as unhas prontas. Capricha no hidrante corporal, no melhor perfume, no sorriso perfeito.

Isso tudo facilita muito a conquista. Abre a porta. Nos permite chegar. Mas para permanecer a gente precisa de coisas bem mais simples.

Um "bom dia" sincero. Um emprestar honesto dos ouvidos. Um lembrete pra beber água durante o dia. Um convite inesperado pra uma viagem a dois nem que seja pra cidade vizinha.

Faz tanta falta um "Onde estaremos ano que vem?" ou "Vamos construir algo juntos?", porque a gente espera que tudo aquilo que juntamos para a conquista é o que alimenta uma relação.

Difícil mensurar o valioso gesto de permanecer ao lado em silêncio, concentrar na mesma pessoa o colega de projetos, o amigo, amante, confidente, companheiro. A gente se engana pensando que podemos segmentar nossos sentimentos e necessidades em várias pessoas diferentes, quando ignoramos a ideia de que já temos a pessoa ideal ao nosso lado.

Não há nada de errado em ter amigos ou outros parceiros de vida, mas nossa prioridade deveria ser sempre quem segura nossa mão na hora de atravessar no sinal, quem abre a porta do carro, quem não nos deixa andar na calçada no lado da rua.

E porque nos dividimos tanto, com tantas pessoas durante nossa vida, acabamos por nos tornar um estranho na vida de quem está ao nosso lado. Só o cuidado nos faz escolher todos os dias a mesma pessoa. Só o cuidado é capaz de causar um laço invisível chamado admiração entre duas pessoas.

A gente não deveria tratar os outros como um troféu conquistado largado em uma estante qualquer. Algumas pessoas merecem nosso esforço e empenho diários.

A conquista abre a porta. Mas só o cuidado não te torna um estranho na vida do outro.


Alexandre Barreto


InstagramAlex Barreto
FacebookAlex Barreto



Comments

Popular posts from this blog

A Vida é uma Porcaria

Sim, a vida é mesmo uma porcaria! Não importa se você é rico, pobre, alto, magro, gordo, feio, bonito, famoso, forte, fraco, tímido, divorciado, casado, com filhos, com netos, bêbado, sóbrio ou ainda burro e ignorante. A vida é uma porcaria. Como eu sei disso? É bem óbvio. Basta observar as pessoas por aí. Existem dois tipos de pessoas. As que sabem que a vida é uma porcaria, como eu e aquelas que por algum motivo cretino tirado de não sei aonde, acham que a vida deve ser boa, ou melhor, que é boa. Eu explico. Na vida de todo mundo, sempre vão acontecer mais coisas ruins do que coisas boas, seja por azar, seja por inapetência, seja por vingança ou até por uma questão de expectativas. Basta olhar os animais nos documentários da TV, vocês já viram o inferno que eles passam para comer e fazer sexo? As vezes eles passam uma semana inteira no “rock and roll” para comer uma droga de um rato (no caso das corujas, coitadas). E os gafanhotos que finalmente quando conseguem copul...

HOJE: Lembrar de Esquecer Você

Hoje eu lembrei de esquecer você mais um pouquinho. O plano está dando certo porque nem precisei apelar pro recadinho que colei na porta da geladeira. Aos poucos consigo te enxergar como uma pessoa normal, comum, exatamente como eu. Não preciso mais olhar lá pra cima, na direção da admiração sublime, para te ver... Faz parte. Não, quer dizer, fez parte. Acho mesmo que meu maior receio era me deixar perdido dentro de você e ir embora. Como me reencontraria? Como seria o recomeço faltando pedaços? Mas isso tudo é lenda que as pessoas inseguras nos contam. O desapego ocorre aos poucos, devagar. A gente vai lembrando menos, falando menos, tocando menos. A gente elege outras prioridades, inventa novas necessidades e vai seguindo assim. Acontece mais ou menos como viver um conto de fadas ao contrário: Cria novos heróis para esquecer os vilões que, acredite, um dia foram heróis. É uma conta que não bate, mas quem disse que existe lógica em tudo?! Não quero encontrar lógica...

O Lado Fatal

I Quando meu amado morreu, não pude acreditar: andei pelo quarto sozinha repetindo baixo: "Não acredito, não acredito." Beijei sua boca ainda morna, acarinhei seu cabelo crespo, tirei sua pesada aliança de prata com meu nome e botei no dedo. Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso. Muita gente veio e se foi. Olharam, me abraçaram, choraram, todos com ar de incrédula orfandade. Aquele de quem hoje falam e escrevem (ou aos poucos vão-se esquecendo) é muito menos do que este, deitado em meu coração, meu amante e meu menino ainda. II Deus (ou foi a Morte?) golpeou com sua pesada foice o coração do meu amado (não se vê a ferida, mas rasgou o meu também). Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado, disse bem alto meu nome no quarto de hospital, e partiu. Quando se foram também os médicos e sua máquinas inúteis, ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?) o meu amado e eu. Enterrei o rosto na curva do seu ombro como sempre fazia, disse as palavras de amor que costumávamos trocar. O silêncio ...