Sabe o que eu queria agora, meu bem?/Sair, chegar lá fora e encontrar alguém/
que não me dissesse nada/não me perguntasse nada também./
Que me oferecesse um colo ou um ombro/onde eu desaguasse todo desengano/
Mas a vida anda louca,/as pessoas andam tristes,/meus amigos são amigos de ninguém./
Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?/ Morar no interior do meu interior/
Pra entender porque se agridem,/se empurram pro abismo,/
se debatem, se combatem sem saber…/Meu amor, deixa eu chorar até cansar/
me leve pra qualquer lugar/aonde Deus possa me ouvir/Minha dor, eu não consigo compreender/
eu quero algo pra beber/me deixe aqui, pode sair./
Adeus.
que não me dissesse nada/não me perguntasse nada também./
Que me oferecesse um colo ou um ombro/onde eu desaguasse todo desengano/
Mas a vida anda louca,/as pessoas andam tristes,/meus amigos são amigos de ninguém./
Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?/ Morar no interior do meu interior/
Pra entender porque se agridem,/se empurram pro abismo,/
se debatem, se combatem sem saber…/Meu amor, deixa eu chorar até cansar/
me leve pra qualquer lugar/aonde Deus possa me ouvir/Minha dor, eu não consigo compreender/
eu quero algo pra beber/me deixe aqui, pode sair./
Adeus.
Há horas em que as horas se arrastam. Há dias em que tudo o que queremos é encontrar alguém que não nos diga nada, que só nos ofereça um colo, um ombro, um cafuné e seu olhar de colchão. Alguém que saiba quando calar para que nossos silêncios falem. Alguém cuja presença seja a estaca que segure a nossa alma, completamente tomada de hera dos fatos pesados da vida. São dias sem sol em que a sombra certa é tudo que desejamos que repousasse sobre nossas cabeças.
Todos nós, vez por outra, precisamos desaguar nossos desenganos. Queremos alguém que seja o receptáculo solícito de nossas angústias, tristezas e aflições. Mas quem? Por onde andará essa pessoa, com o dom e a sensibilidade de saber que a desculpa mais esfarrapada para deixar de viver é o máximo que conseguimos criar e, mesmo assim, ainda acredita em nós? Olhamos para os lados e o que vemos são pessoas e mais pessoas. Elas nos acompanham e no meio delas somos o mais sozinho ser do universo. Porque as pessoas andam tristes e na sua tristeza os amigos tornam-se amigos de ninguém.
A vida fica louca e sai do eixo. A vida parece que tem vida própria e independente de nós. Ficamos a seu reboque. Pagando com a alma se preciso for, queremos comprar a primeira passagem para o interior de nosso interior. Lá, talvez, a contemplação do silêncio ajude a entender porque as pessoas fazem o que fazem, por que tanto desentendimento em tempos de linguagem farta, por que se empurram para os abismos numa beligerância sem nexo, por que se debatem gratuitamente e se combatem com afinco sem saber.
Há momentos da vida em que queremos chorar até cansar. A esperança é que aquela sensação boa de depois de um choro venha enxaguar a sujeira que se acumula na casa desarrumada de nossa alma. Que ela faça uma faxina de quem tem TOC e devolva a cada coisa sua simetria perfeita no esquadro da existência. Porque está tudo bagunçado, está tudo confuso. Não achamos nem a porta para fugir. Ou até achamos, não temos mesmo é força.
Nossa via-crúcis particular não termina. Que droga! Por que não nos penduram logo numa cruz para acabar com esse tormento que martela de forma chinesa nas veias, no corpo, na mente? Quantas estações teremos que passar aguentando chibatadas e açoites que parecem ter combinado o tempo sincronizado para acertar as nossas costas?
Há tempos em que parece que estamos num casulo de Dante. Nem Deus consegue nos ouvir. A Ele, que ouve até nossos silêncios, lhe escapamos . E cadê a pessoa para nos carregar no colo até um lugar onde Ele possa sentir nossa respiração? Porque Lhe basta isso para olhar para nossas inquietudes e apaziguá-las…
A vontade nesses dias chuvosos é de se deixa encharcar. Sumir dos olhos de todos, buscar escapes, chutar o balde. Dar adeus a quem mais nos quer bem. E a quem definitivamente não nos quer bem. Mas não é sábio.
A vida de todo mundo é assim. Eu já vi fogo e eu já vi chuva. Eu já vivi dias chuvosos que pensei que jamais terminariam. Talvez vocês, meus dezessete leitores, não saibam, mas já cheguei muito perto, mas muito perto de renunciar à vida, quando estive afogado em certo dilúvio que me inundou a existência.
Depois o sol abriu. E com ele as cores do arco-íris. Porque é assim. A vida de todo mundo é assim. Vivemos os céus mais azuis e os infernos mais quentes intercalando-se na calada da vida. Vivemos a doçura mais deliciosa e o amargor do fel de ocasiões que chegam em bando, em gangue, para nos roubar a paz e nos estuprar a tranquilidade.
Ao descrever um momento acre da vida, a música de Vander Lee na belíssima voz de Gal Costa nos lembra, por tabela, que há momentos felizes, momentos de sorrisos fartos. A vida é agridoce. Se entendermos que é assim, talvez soframos menos. Talvez. Em minha felicidade, entendo a crítica de que sou suspeito para falar de tristeza.
Sérgio Freire
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