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Beijo

Beijo deveria ser moeda de pedágio. Passar pela porta de casa seria proibido sem antes lascar um beijo na mãe, no pai, no irmão, no filho, no marido e, para quem gosta, até no cachorro!

Beijo deveria ser como bolinha de sabão. Num sopro, a gente poderia mandar alguns pelos ares, que explodiriam na pele de quem neles encostassem. E de repente, sem saber de onde veio, seríamos presenteados com um beijinho perdido pelas ruas da cidade...

Beijo deveria ser elemento químico. Constar na Tabela que a gente tem de decorar para a prova de química, no colégio. Assim, certamente seria mais interessante e ainda ensinaria qual a fórmula mágica deste estalo tão bom...

Beijo deveria caber num envelope, mesmo que fosse dos maiores, mas que pudéssemos enviá-lo pelo correio, para aquela pessoa que está tão longe e que daria qualquer coisa para sentir o gosto da boca de seu amado.

Beijo deveria acender luzes pelo corpo da gente. E quando a energia elétrica entrasse em pane, bastaria que demonstrássemos nosso amor pelas pessoas queridas e qualquer escuridão terminaria...

Beijo deveria estar disponível nas vitrines das melhores docerias. Poderia até ter preço especial, mas que pudessem pagar por ele aqueles que aparentemente menos merecessem, porque beijos são realmente transformadores e certamente provocariam reações sensacionais.

Mas beijo não é assim. É particular e a gente escolhe em quem quer dar. Porque beijo é um presente que precisa de vontade para ser oferecido. E talvez seja melhor que assim aconteça: não tão anônimo, não tão sem motivo, nunca forçado, ainda que possa ser pedido.

Por fim, é essencial que o beijo seja leve, fluido, sintonizado com a delicadeza própria de quem sabe dar. Na verdade, beijo é sempre dado. Receber é apenas contingência da mais gostosa e prazerosa troca entre duas pessoas que se desejam insanas por alguns instantes...

... posto que um beijo pode valer mais que a lucidez de uma vida inteira.

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