A vaidade está presente em todos nós. Faz parte do erotismo... Quem não gosta de se olhar no espelho e sentir-se bem, bonito e saudável? Mas as verdadeiras necessidades de uma pessoa nunca são satisfeitas através de uma imagem.
O alívio é fugaz. Os dom-juans não afirmam sua masculinidade seduzindo mulheres com uma fachada de machos. Por mais eficaz que seja essa fachada, intimamente continuam inseguros e dependentes de sua imagem.
Resultado: mais dia, menos dia, sua receptividade sexual sofrerá as consequências. E certamente essa ausência de realização sexual aumentará sua insegurança, levando-os a investir ainda mais energia na imagem.
O saudável seria aceitar-se tal como são: frágeis e inseguros. E trabalhar seus sentimentos.
Quanto mais caminho por este mundo, mais me asseguro de que beleza não se conjuga com um verbo só: "malhar". Reside numa combinação fértil de verbos que valem tanto para o homem quanto para a mulher e podem ser resumidos num só parâmetro: a vivacidade interior.
No íntimo, na essência, o homem e a mulher são muito mais semelhantes que diferentes quando se fala de beleza. Belas são pessoas que brilham sem o artifício de iluminadores. Sua luz é natural. Muitas mulheres vivem, porém, sob o efeito de holofotes. Será por culpa do homem?
Dentre tudo o que o imaginário masculino pôde fantasiar em relação à mulher e seu corpo, desfila uma enorme quantidade de mitos. Do gigantismo incorporado à Grande Mãe ao poder das prostitutas, passando pela femme fatale, os arquétipos da mulher maldosa lotam a mitologia humana e representam a incontrolável e inegável proximidade da mulher e da natureza. A sexualidade feminina deu muitas voltas em torno do útero. Mas, em 32 mil anos de História não perdeu sua essência: perpetuar a espécie.
Hoje se diz que ter filho é o que vem por último na escala das prioridades femininas. Mas não é verdade. Da mesma forma que as mulheres não saem da cabeça dos homens, a criança não sai da cabeça das mulheres - embora os movimentos de emancipação feminina se recusem a reconhecer a força incomensurável da procriação.
Engravidar ainda é in. Não caiu e nunca vai cair de moda. Mas no início, quando ainda não havia o aspecto estético aos olhos masculinos aparecia apenas a fêmea. Nem feminina nem mulher. O corpo da fêmea humana voltava-se para a fertilidade e a reprodução.
O sexo com o primitivismo pélvico e abdominal. Sem os bloqueios e floreios do intelecto. Era o "cio". Em épocas de fome, caça e sobrevivência, a "gordura" estrogênica da imagem da "Vênus" era a esperança de abundância. A fêmea prezava seu corpo e sua espécie.
Nessa estatueta primitiva, a arte era dominada por outros padrões. Os desenhos e as pinturas das cavernas não se projetavam aos olhos como os modernos outdoors. As ilustrações registradas naquele espaço frio, úmido e escuro não se destinavam a tornar-se públicas. Eram subjetivas. Invocação, esperança e oração. Um convite sublime enviado aos animais: "Venham os búfalos e cervos nos dar a sobrevivência".
O interior das cavernas era uma "invaginação da terra" em que os homens depositavam seu sêmen artístico. A pintura era um ato sexual. E o que ficava era uma semente que, se fertilizada, poderia trazer vida. Tinha vitalidade, movimento e dinâmica. Expressão do desejo.
Não existia um critério estético do que hoje denominamos de "arte".
Malcolm Montgomery
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