O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas olhando para a direita e para a esquerda, e de, vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento é aquilo que nunca antes eu tinha visto,e eu sei dar por isso muito bem. Sei ter o pasmo essencial que tem uma criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras. Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo. Creio no mundo como num malmequer, porque o vejo. Mas não penso nele porque pensar é não compreender. O Mundo não se fez para pensarmos nele - Pensar é estar doente dos olhos -, mas para olharmos para ele e estarmos de acordo. Eu não tenho filosofia: tenho sentidos. Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque a amo, e amo-a por isso, porque quem ama nunca sabe o que ama nem sabe por que ama, nem o que é amar. Amar é a eterna inocência, e a única inocência não pensar. Alberto Caieiro
Sofro de sérios poemas mentais.