Se a vida é feita de viagens, a minha percorro de barco.
Por muitas vezes remei contra a correnteza. Naveguei por rios serenos, mares tranquilos, e até permiti que o
vento escolhesse minha direção.
Em algumas ocasiões lembro-me de ter enfrentado sozinho e silenciosamente ondas gigantes que me derrubaram.
Felizmente tive forças para retornar o barco para a posição original, paciência para retirar a água e
persistência para seguir adiante.
Já ancorei em praias desertas, rios solitários e até em algumas ilhas lotadas de pessoas onde me senti um
estranho! Cada parada, uma nova experiência. Aprendi e tive a chance de compartilhar meus momentos.
Incontáveis pessoas ficaram em seus lugares de origem, algumas percorreram algumas milhas comigo e poucas
ainda me acompanham nessa jornada.
Meu barco é pequeno - por opção. Prefiro a atenção de uma pessoa de cada vez. Acho que muita gente,
inevitavelmente, produz muito ruído. E por mais que eu me esforce, o barulho é o único tipo de linguagem que
não consegui traduzir ao longo da minha vida. Logo, se não entendo, por opção, não ouço e então não quero. É
o meu barco. É a minha vida!
Não sei se todo mundo nasce com um barco. Eu tive que construir o meu. Montei com sonhos, pintei com suor e lágrimas e o tornei impermeável com minhas escolhas. Felizmente - ou infelizmente - optei por
construí-lo com minhas próprias mãos e todos os recursos gastos para deixá-lo como está foram conseguidos
com meu próprio esforço. Tenho um orgulho danado desse barquinho que construí sozinho!
Tenho visto pessoas que passam ao meu lado na carona e me pergunto como deve ser. Em que momento abandonaram
seus barcos? Será que algum dia farei isso? Existe covardia, omissão ou preguiça em seguir na carona?
Andando torto ou sem destino, o fato é que até hoje sou o construtor, marujo e comandante do meu barquinho.
Não tenho regras absurdas ou sou um capitão inflexível com um tapa-olho e meio cérebro. Mas para embarcar
existe um tempo certo; um sincronismo. Você não pode subir enquanto estou distante de você - Não é prudente
se aventurar nadando no mar para me alcançar. Também não pode vir a bordo se o seu destino for diferente do
meu caminho. E finalmente, não pode ficar na prancha de embarque o tempo todo - ou embarca, ou fica no seu
cais...
As garantias não são muitas. Vez por outra, o balanço provocado pelas ondas pode te provocar mal-estar, o
céu não será lindo durante todos os dias de nossa viagem e você vai precisar remar comigo.
Se eu pudesse te dar uma dica, diria para não ficar num barco onde só você rema. Se você tem alguém do seu
lado que só serve de peso, pode se conformar: As embarcações precisam de uma âncora. Você só precisa estar
disposta a esquecer seus sonhos de seguir adiante para se adaptar ao conformismo de estar parada no mesmo
lugar.
Alexandre Barreto
Como não há nenhum comentário nesse post???? Esse post merece outro post à altura, haha!
ReplyDeleteParabéns pelo post. Belas palavras.
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