Quem não conhece a famosa história bíblica datada há 2500 anos? O nazireu forte e poderoso que foi enganado pela formosa Dalila em troca de dinheiro? Esse é o enredo perfeito para uma tragédia: uma mulher tentadora motivada pela cobiça e um homem moralmente fraco e com paixões incontroláveis.
Com o passar do tempo espera-se que a humanidade evolua. Evoluimos, é claro, temos tanta tecnologia que nos perguntamos se há mais o que inventar.
Entretanto a força do pensamento estancou e nossos instintos continuam primitivos. Vivemos num mundo repleto de grandes massas populares alienadas, nunca fomos tão regidos por nossas paixões levianas: o consumismo exagerado por bens fúteis; a urgência de parecer-se com o outro que está aquém da nossa realidade; a busca pela perfeição inexistente, pela profissão não quista, mas bem remunerada; determinada posição social; a ridícula ideia do parceiro “hollywoodiano” – sempre atraente, bom de cama e cheio de amor; a influência por regras hipócritas da sociedade e a busca por uma felicidade efêmera.
Rousseau já dizia isso ao falar do homem moderno e sua degradação nos valores éticos que privilegia o ter, o dominar, o conquistar, mas não sabe o que é o ser.
Tanto Sansão quanto Dalila fazem parte desse rol de execráveis talentos sem valores e princípios. Sansão, por exemplo, é o típico homem moderno: escravizado pelo entusiasmo dos outros e não proprietário de suas carências, deixando que desrespeitem sua liberdade individual. Os defino da seguinte forma:
“Existem sem dúvida, mulheres, assim como homens,
a quem a igualdade de respeito não irá satisfazer;
tais pessoas não ficarão em paz enquanto qualquer vontade ou desejo, que não seja o seu próprio, não seja atendido.
Elas servem somente para viver sozinhas e nenhum ser humano deveria ser obrigado
a unir sua vida com tais pessoas”
[J. Stuart Mill – A Sujeição das Mulheres, Capítulo 2]
Dalila não era o primeiro “caso” de Sansão. Antes ele havia se casado com uma mulher de Timma, apenas por que sentia atração física por ela. E da mesma forma que Dalila, ela usou de sua habilidade e manipulação – inclusive uma semana de lágrimas – para conseguir o que queria e quando obteve, o traiu.
Ambas as mulheres utilizaram métodos simples, mas que acabaram funcionando porque Sansão não conhecia sua própria força interior e seu poder sobre si mesmo, consequentemente confundindo prazer com amor e respeito, por isso confiou nas pessoas erradas. Todos nós somos dotados de paixões - perecíveis ou não –, cabe a nós controlá-las e fazer nossas escolhas. O homem com domínio próprio é fascinante, e inteligência é um afrodisíaco para mulheres que se valorizam.
Estar com as rédeas nas mãos é saber o que quer e onde pretende chegar. É valorizar suas qualidades e acreditar que nenhuma mulher o completa, ela soma à sua vida, porque se um dia ela partir, você continua inteiro.
Procurar uma parceira à altura é uma tarefa árdua e por vezes fatigante, afinal ninguém gosta de ficar sozinho. Porém passar todos os dias com uma Dalila bonita e gananciosa vale à pena? Sansão perdeu a força, a dignidade e a vida. E o que você vai perder até crer que se respeitando você tem somente a ganhar?
Valorizar-se não é reprimir seus desejos ou rotular as pessoas. É dar-se a vantagem de saber separar o joio do trigo.
Termino esse texto com algumas palavras de Rousseau retiradas do livro Desigualdade dos Homens (último parágrafo do volume):
“[...] Pois é manifestamente contra a lei da natureza, de qualquer maneira que seja definida, que uma criança mande num velho, que um imbecil conduza o sábio ou que um punhado de pessoas nade no supérfluo, enquanto à multidão esfomeada falte o necessário.”
Humildemente peço licença para completar o texto com minhas palavras:
“[...] Pois é manifestamente contra a natureza, de qualquer maneira que seja definida, que uma mulher manipule um homem ou que um homem se deixe dominar por suas próprias ilusões”.
Flávia A.P. [Jornalista]
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