Muitas pessoas constituem casal pensando que irão iniciar uma grande brincadeira, cujo objetivo maior é o prazer. A experiência mostra que aqueles que pensam apenas no gozo são os que mais sofrem em uma relação. Depois de algum tempo, iniciam-se as insatisfações, as frustrações, as cobranças, a rotina e o tédio. A pessoa se sente como um peixe apanhado no anzol, enganado, que ao tentar comer a minhoca acabou virando comida do pescador.
O grande objetivo do homem e da mulher, ao desejarem ficar juntos, deve ser criar oportunidades para ter um espaço, onde possam desenvolver a capacidade de viver a dois, buscar soluções criativas, à medida que os obstáculos apareçam, e aprender a desfrutar todas as formas de viver com amor.
Após a grande liberação sexual dos anos sessenta e setenta, ficou fácil as pessoas se encontrarem para relacionamentos ocasionais, em que aliviam as tensões, conhecem gente diferente e gozam de momentos agradáveis. Mas, ao mesmo tempo, cada vez mais, elas sofrem com a "ressaca sexual" - aquela sensação de vazio, culpa e insatisfação que acompanha tais relacionamentos.
Uma ressaca sexual aparece quando se comete uma agressão contra si mesmo e, sem dúvida, é um aviso de que é preciso ser mais cuidadoso. Mas essa ressaca também pode ser fruto de um condicionamento estabelecido durante a infância, pelo fato de se ter um único casamento, ou de praticar sexo apenas depois do casamento. O que nos chama mais a atenção, no entanto, é que esse sintoma tem aparecido, cada vez mais, em mulheres e homens que tiveram um grande número de relações passageiras.
As pessoas estão sentindo falta de relações profundas e sólidas!
Estar com alguém plenamente é um caminho de crescimento, um aprendizado de viver a dois; é a possibilidade de se vencer o medo da entrega e de se conhecer no íntimo.
Conviver com alguém que amamos é o mesmo que comprar um imenso espelho da alma, no qual cada um dos nossos movimentos é mostrado, sem a mínima piedade. E é aí que começa o inferno… Ao invés de encarar-se a verdade e de ver-se a imagem temida do verdadeiro "eu", tenta-se quebrar o "espelho".
Como é possível quebrar esse "espelho"? Existem muitas formas, mas as cotidianas são: fugir da intimidade, culpar o outro, não assumir as próprias responsabilidades na relação e desacreditar o amor.
Viver com alguém que se ama não é apenas uma oportunidade de conhecer o outro, mas é a maior chance de entrar em contato consigo mesmo. Apenas quando nos vemos é que percebemos o medo de nós mesmos e nos aceitamos como realmente somos. Começamos, então, a nos capacitar para o amor.
Um dia perguntaram a um grande mestre quem o havia ajudado a atingir a sabedoria; e ele respondeu: "Um cachorro". Os discípulos, surpresos, quiseram saber o que havia acontecido, e o mestre contou: "Certa vez, eu estava olhando um cachorro, que parecia sedento e se dirigia a uma poça d'água. Quando ele foi beber, viu sua imagem refletida. O cachorro, então, fez uma cara de assustado, e a imagem o imitou. Ele fez cara de bravo, e a imagem o arremedou. Então, ele fugiu de medo e ficou observando, durante longo tempo, a água. Quando a sede aumentou, ele voltou, repetiu todo o ritual e fugiu novamente. Em um dado momento, a sede era tanta que o cachorro não resistiu e correu em direção á água, atirou-se nela e saciou sua sede.
Desde então, percebi que, sempre que eu me aproximava de alguém, via minha imagem refletida, fazia cara de bravo e fugia assustado. E ficava, de longe, sonhando com esse relacionamento que eu queria para mim. Esse cachorro me ensinou que eu precisava entrar em contato com a minha sede e mergulhar no amor, sem me assustar com as imagens que eu ficava projetando nos outros".
Roberto Shinyashiki
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